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CONTEXTOS DE MUDANÇA

Refere-se a grelhas políticas, administrativas, científicas e sociais de uma determinada época (por exemplo, as políticas dos anos 1980 e a adesão à união europeia, os autores e correntes de pensamento mais influentes nessa época, entre outros) assim como a projetos e iniciativas institucionais ou locais que, do exterior, moldaram as vivências dos professores.

“A questão das quotas, nos escalões, faz com que muitas vezes quem tem um Muito Bom não é aquele que ao longo do ano desenvolveu um trabalho meritório. Concertam-se as coisas, de maneira que o colega que precisa das quotas, ir para as listas nacionais, tenha mais uma décima vez, às vezes é uma centésima de diferença para esse colega. E o outro colega, que durante o ano se esforçou imenso, que fez um trabalho extraordinário, que obteve, alcançou e contribuiu para os objetivos do Agrupamento, para a construção do Plano Anual de Atividades, o Projeto Educativo, que desempenhou muitos cargos, que esteve ali ao lado da escola e deu o melhor de si, que é Muito Bom, é convertido num Bom.” (Gracinda, EI).

“Eu penso que a avaliação [de desempenho docente] veio minar o ambiente das escolas, completamente, completamente. As relações já não são as mesmas.” (Ana Rosa, EI).

“Foi só a partir dessa altura, a partir de 1991, que em Portugal foi legislado que todas as crianças deviam estar na escola. O que saiu desse encontro internacional (…) foi o princípio de escola para todos. E então os portugueses, na altura, criaram o Decreto-Lei que regulamentava a integração das crianças com deficiência na escola regular e tornou obrigatória a frequência da escola para todos. Até aí, alguns meninos estavam dispensados de ir à  escola. Portanto, muitos ficavam fechados em casa. Portanto, houve grandes alterações a nível também da educação em si, em Portugal, e da educação dos surdos também.” (Irene, 1.º CEB).

“O diretor do agrupamento das escolas de onde vim é uma pessoa muito aberta. (…) Se apanhamos um diretor com características mais autocráticas, são essas coisas todas que a mim me preocupam.” (João, 1.º CEB).

“Os serviços administrativos nas escolas funcionam mal. Hoje em dia os diretores dizem que nós somos os responsáveis por verificar o nosso processo.” (Iva, 2.º CEB).

“Os agrupamentos [horizontais] foram um passo de gigante, quer na melhoria de imensas questões, quer do ponto de vista pedagógico, não tenho dúvida nenhuma. Combateu-se o isolamento, as pessoas viviam isoladas, o 1.o CEB e o jardim de infância, viviam completamente isolados, não tinham contactos, ou tinham poucos contactos, e não tinham ninguém que coordenasse a atividade deles. Houve aqui uma série de melhorias decorrentes da criação de agrupamentos e que trouxeram, inclusivamente, uma motivação extra para todos os docentes. Eu não tenho dúvidas nenhumas. (…) Os colegas não queriam acabar com os agrupamentos horizontais.” (Joca, 2.º CEB).

“Houve momentos muito conturbados, vividos lá na escola. Houve momentos muito conturbados com aquela ministra. Sabemos que a doutora Maria de Lurdes Rodrigues estragou bastante. Estragou sobretudo essa possibilidade de bom relacionamento. Transformaram a escola numa fábrica e a escola não pode ser isso.” (Virgílio, 3.º CEB e ES).

“[Com os agrupamentos horizontais] havia a tal representatividade, nós tínhamos uma voz ativa nas coisas. Penso que a mudança do sistema de gestão da escola [para agrupamento vertical] virou tudo ao contrário, virou tudo ao contrário. Ou seja, as coisas passaram a ser a vir ao contrário, de cima para baixo.” (Amadeu, 3.º CEB e ES).

“Os agrupamentos são uma falsa reunião de escolas. Elas só têm vantagens para o Ministério da Educação, que tem menos funcionários nas secretarias de cada uma das escolas (…) e poupam dinheiro com isso.” (Amélio, 3.º CEB e ES).

Sobre o Ministro da Educação José Veiga Simão, com apenas uma referência, destaca-se a sua política educativa como “(…) uma lufada de ar fresco no ensino” (Quitéria, 2.º CEB). Sobre o Ministro da Educação Roberto Carneiro, com três referências, refere-se a sua proximidade, empática, com os professores nas escolas, tornando-se num “(…) dos ministros mais amigos dos professores – amigos em termos de amizade” (Joana, 3.º CEB e ES), destacando-se a sua “(…) visão para a educação, uma visão muito abrangente” (Virgílio, 3.º CEB e ES). Sobre o Ministro da Educação Eduardo Marçal Grilo, com uma referência, apresenta-se a sua pessoa e a sua política como “(…) consciente, bondosa, muito cerebral” (Joana, 3.º CEB e ES). Sobre o Ministro da Educação David Justino, com uma referência, da mesma entrevistada Joana, destaca-se que “o professor David Justino foi mais ou menos como o professor Marçal Grilo, mas um bocadinho mais longínquo de nós, um bocadinho mais distante.” (Joana, 3.º CEB e ES). Sobre a Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, num total de nove referências, tecem-se críticas de responsabilidade pelo “descrédito total sobre a classe docente.” (Esmeralda, 2.º CEB), com ações que “(…) em quatro anos conseguiu estragar tudo aquilo que tinha sido construído.” (Joana, 3.º CEB e ES), traduzindo-se num “(…) grande retrocesso com perseguição cega a tudo quanto fosse professor.” (Quitéria, 2.º CEB). Sobre o Ministro da Educação Nuno Crato, sobre o Ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues e sobre o Ministro da Educação João Costa, existe uma referência, pelo mesmo entrevistado, Virgílio, elaborando tais políticos e suas medidas decretadas pela consideração de que “Neste momento, o João Costa, por quem eu tenho até consideração – ele sabe muito. Mas de facto, do meu ponto de vista, [ele] está a ver muito mal a questão da educação. O anterior ministro, o Tiago Rodrigues, pareceu ser muito ausente. Esse ministro, nós praticamente nem precisávamos dele. O Nuno Crato, foi uma pena. (…) Ele, de facto, tinha boas ideias, mas depois julgo que não conseguiu ver bem a questão [da educação].” (Virgílio, 3.º CEB e ES).

“Bom, aquilo às duas por três estava a envolver as famílias e a comunidades e começamos a fazer encontros em cada país, um ano era lá, o outro ano era cá. Na altura não havia cá Comenius, nem Sócrates, nem nada disso. Nós tínhamos que trabalhar muito e fazer festas para arranjar dinheiro porque as pessoas não tinham capacidade económica para pagar uma viagem para França.” (Noel, EI).

 

“As pessoas fazem muitos projetos, mas os projetos para nós têm outro significado (…). Um grupo de miúdos que estavam a fazer um projeto sobre – que eu acho que até é interessante e pertinente – o Nelson Mandela. Os miúdos até fizeram uma pesquisa, até selecionaram a informação, mas depois eu estava a perceber que aquilo não lhes dizia assim tanto. Eu disse-o à pessoa que propôs o projeto (…) mas eu tenho que fazer o meu papel e aquilo que me foi pedido. Quando eu tento dizer à professora bibliotecária que se calhar não era por aí…” (Clotilde, 1.º CEB).

 

“Trabalhei sempre com crianças surdas. (…) Nessa altura, existiu a integração pela primeira vez de crianças em escolas do segundo ciclo. Desenharam esse projeto e depois quando eu cheguei aqui, convidaram-me para assumir esse projeto. Eu assumi. Portanto, é a primeira vez que alunos surdos são integrados. (…) [Até então,] nunca se tinha avançado para a integração de crianças [com necessidades educativas especiais].” (João, 1.º CEB).

 

“Antigamente havia uma área, que era a área escola. (…) Isso foi fantástico. Eu fiz vários projetos com várias turmas. (…) Na altura, a escola tinha duas horas semanais, a que nós podíamos, com os alunos, trabalhar a área, o tema que se propunha ao projeto. Os outros professores colaboravam nesse tema. Havia um ou dois professores que geralmente era a diretora de turma, mais outro professor que estava dentro da sala de aula e, portanto, os outros colegas colaboravam com eles, dentro da sua área disciplinar, de acordo com aquele tema.” (Iva, 2.º CEB).

 

“Área de projeto também foi outra coisa que saiu mal. Mal, porque os projetos não nasciam dos alunos. Nunca. Não tinha que ser o professor a propor os projetos, que era contrário às intenções. A intenção era que os alunos fizessem, propusessem projetos consoante as suas necessidades. Era esta a ideia pura. Mas isso não acontecia. Acabavam por ser os professores a propor. (…) Eram aulas um bocado falhadas.” (Amélio, 3.º CEB e ES).

 

“Eu não sei se noutras escolas as experiências são diferentes. Provavelmente haverá escolas em que é diferente. Aqui, cada vez mais assisto ao individualismo da profissão. Na profissão docente há o individualismo. A ausência de projeto, a ausência de compromisso, um isolar-se com a sua turma, com os seus alunos.” (Luciana, 3.º CEB e ES).

“Eu sei que os currículos se tocam e devem ser conhecidos tanto pelos educadores como pelos professores de 1o ciclo, ambos devem conhecer os currículos. Antes, tínhamos encontros com uma especificidade tão forte, tão forte. No mesmo dia poderia haver encontros para educadores e para professores, em conjunto.” (Gina, EI).

 

“Portanto, no princípio ainda não havia orientações curriculares. (…) As orientações curriculares foram um documento que mexeu muito connosco. Nós participámos na formação para as primeiras orientações curriculares. Participámos depois na divulgação das orientações curriculares. Foi uma coisa muito fantástica para mim! Muito boa! Que nos ajudou, no fundo, a ter uma maior identidade profissional e a fundamentar melhor a nossa ação, que já fazíamos.” (Olga, EI).

 

“Eu já passei por muito. (…) Quer dizer, eu já não sei quantos programas curriculares dei. Enfim, era o programa da capa limão, depois era o laranja, depois era o verde, houve vários. Houve muitas mudanças, constantemente, no nosso país.” (Carmina, 1.º CEB).

 

“Uma matéria que nós dávamos antigamente no 4.o ano [de escolaridade], agora passou para o 2.o ano [de escolaridade]. Os miúdos não têm maturidade nenhuma para conseguir perceber aquilo que nós lhe estamos a dizer.” (Bruna, 1.º CEB).

 

“Houve um grande avanço nos programas curriculares, isto em 2007-08, (…) que depois caiu tudo com o nosso amigo [Ministro] Nuno Crato. Eu acho que isto não pode continuar assim. A educação tem tido várias propostas de avanço que depois nunca são avaliadas e pensadas e assumidas como um projeto para o país. Não é um projeto para um governo deste ou um governo daquele. O que é mau, porque tem prejudicado as aprendizagens, porque andamos aqui em avanços e recuos.” (Clotilde, 1.º CEB).

 

“Agora existem as DAC que não estão tão intensas como estiveram há três ou quatro anos. (…) Nos conselhos de turma combinava-se ‘o que é que eu vou articular consigo? Olhe na minha disciplina eles podem escrever uma história, e consigo traduzem’, se for em Inglês, se for em EV [Educação Visual] podem ilustrar (…) mas já nem ponho em ata. (…) É tudo muito vigiado. Não sei se vigiado é a palavra certa, mas…” (Aldina, 2.º CEB).

 

“Isto do currículo alternativo, desde que bem orientado… O nosso psicólogo (…) teve uma interferência muito positiva, quer no que diz respeito à seleção dos alunos que vão para ali, (…) quer no contacto com as famílias, naquilo que é explicar às famílias o que são turmas de currículo alternativo, para o é que servem e porque é que foram criadas. Devo dizer-lhe que nestes anos todos não sei se houve alguma recusa. (…) O currículo alternativo proporcionou-nos, de facto, uma melhoria brutal, não total, mas uma melhoria muito grande em termos de sucesso educativo. Porque são alunos que facilmente chumbariam, são 20 alunos no currículo alternativo que deixaram chumbar.” (Joca, 2.º CEB).

 

“Por exemplo, na minha escola consideravam que os apoios são componente não letiva. Eu não considero que isso seja correto, porque muitas vezes, para dar um apoio, tenho mais trabalho na preparação da aula do que para dar uma aula normal. (…) Entre tanta gestão e coordenação em cargos, (…) depois ainda nos vão exigir que estejamos atentos às especificidades de cada um dos alunos. Tenho neste momento colegas com 65 e 66 anos, com uma disciplina cuja carga horária foi reduzida para duas horas semanais, é o caso de Geografia, de Francês, os colegas têm sete turmas. Turmas com 25 alunos, são imensos garotos, em cada turma temos os miúdos com necessidades educativas especiais, com autismo… Como é que é possível fazermos uma boa gestão? (…) É muito para fazermos.” (Quitéria, 2.º CEB).

 

“Há disciplinas estruturantes do currículo e outras não… (…) Não há nada tão estruturante como a Educação Física em algumas idades, como não há em relação à Música. Quer dizer, a Música nos miúdos do 1o ciclo e do 2o ciclo é decisiva.” (Chico, 3.º CEB e ES).

 

“Houve algumas disciplinas que foram sendo eliminadas. (…) Havia disciplinas que não faziam falta nenhuma e outras que faziam falta à formação dos alunos. Eu estou-me a recordar, logo no princípio da [minha] carreira [na década de 1970-80], que havia uma área que se chamava Científico-Naturais e tinha depois uma subárea que era a Saúde. (…) Atualmente não há nos currículos. Há muito falta de informação e formação nas áreas de saúde. (…) Há conhecimentos básicos que eles deviam ter. Por exemplo, saber lavar os dentes.” (Amélio, 3.º CEB e ES).

 

“Por exemplo, os programas de Português eram textos até chegar à vida, o jornal, essas coisas. Ele acabou com isso tudo no Português, no [ensino] secundário. (…) Conteúdos que não têm interesse nenhum, volta o programa a ser como era no meu tempo de estudante. (…) Os alunos hoje do 10.o ano [de escolaridade] dão “As cantigas do amigo” e as “Crônica do D. João I”, esses textos dificílimos de trabalhar para alunos, isto é completamente anormal.” (Rómulo, 3.º CEB e ES).

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