FYT-ID

Referencial Teórico

A educação foi um eixo central de desenvolvimento nos últimos 50 anos em Portugal, sendo os professores elementos essenciais nesse processo. Neste trajeto foram sendo dados passos firmes e decisivos na afirmação do profissionalismo docente [1][2][3][4]. Aqueles que iniciaram o exercício docente nos anos 1970 e que agora chegam ao fim da carreira têm com eles a história real da evolução de um sistema educativo e das suas peripécias; a memória das inovações e da reforma; um conhecimento da escola e da sua transformação e inércia, e das crianças e jovens nas suas diferentes gerações; possuem um conhecimento de dentro (nem sempre consciente) das dificuldades e oportunidades de melhoria. Esta riqueza de conhecimento vivido [5] pode assumir-se como um contributo crucial para o estudo dos professores e da mudança educativa (social, curricular e política) [6]. Para além disso, as questões previamente mencionadas e relacionadas com o envelhecimento e ausência de renovação do corpo docente e perda de atratividade da profissão [7] tem dificultado o convívio entre gerações de professores, aumentando a necessidade de aprofundar o estudo sobre os processos de diálogo intergeracional e sua relevância.

Neste sentido, e tendo por pano de fundo as transformações das últimas décadas, o atual envelhecimento do corpo docente e as possibilidades abertas pela investigação biográfica para a compreensão dos processos históricos quotidianos, a formação e a comunicação com a sociedade [8] [5] [9], o projeto estrutura-se em torno de três eixos teóricos: construção do profissionalismo dos professores e da inovação educativa; rejuvenescimento do corpo docente e diálogo intergeracional; investigação-biográfico narrativa e criação de repositório aberto.

Histórias de Vida

As transformações vividas pelos professores nos últimos 50 anos são evidentes em diversos estudos [10] [11] [12], mas é muito rara a recolha de depoimentos de professores que estão perto da reforma: “Infelizmente, é comum há muito tempo que professores se aposentem ou deixem a profissão sem compartilhar as suas histórias”(p.382) [13].

No entanto, as histórias de vida associadas ao tempo de uma vida profissional fornecem informações sobre as variáveis pessoais de desenvolvimento de carreira e sobre as condições sociais, políticas, curriculares e pedagógicas que geram e são geradoras de diferentes “períodos de prática” (p. 592) [14]

Esse conhecimento interno permite identificar “como os professores criam teorias educacionais dentro das possibilidades e restrições das suas circunstâncias – biográficas, históricas e políticas, geográficas, culturais e discursivas” (p. 543) [15].

Diálogos Intergeracionais

Santoro, Pietsch e Borg (2012) [16] afirmam que os programas intergeracionais “poderiam oferecer a professores novos uma oportunidade de desenvolverem relacionamentos com uma geração anterior de professores, que podem […] fornecer modelos vivos do valor do ensino como uma carreira e a importância de desenvolver a paixão pelo seu trabalho ”(p. 593).

Goodson e Gill (2011) [17] argumentando sobre as características de uma Pedagogia Narrativa, chamam “encontro pedagógico” à construção relacional ou compartilhamento de narrativas – “À medida que construímos nossas narrativas e as trocamos entre nós, ocorre um encontro pedagógico” (p. 42).

Investigação em parceria com formadores e promover a convivência com a profissão à medida que a formação ocorre – condições de sistemas de formação de qualidade.

Repositório

O Repositório permite tornar conhecidas as HV dos professores e os processos de formação de referência, num formato que aproxime a ciência da sociedade. O Projeto FYT-ID tem por referência outros repositórios, mas tem a sua especificidade; nele os procedimentos de edição serão associados à criação de uma nova história (uma narrativa diferente do testemunho original) representativa de diversas histórias de vários professores em condições sociais semelhantes – aspeto fundamental na análise narrativa como construção científica do conhecimento. A ideia é criar novas histórias que exemplificam várias vidas em determinadas condições profissionais em estudo. As formas de formalizar os resultados da pesquisa são as tipologias e os ideais-tipo.

Referências:
[1] Correia, L. G., Leão, R., & Poças, S. (Eds.). (2017). O Tempo dos Professores. [The time ofteachers] Porto:CIIE/FPCEUP
[2] Nóvoa, A. (2017). Firmar a posição como professor, afirmar a profissão docente. Cadernos de Pesquisa, 47, 1106-1133. doi:https://doi.org/10.1590/198053144843
[3] Evans, L. (2015). Professionalism and professional development: what these research fields look like today – and what tomorrow should bring. Hillary Place Papers (2nd ed.).
[4] Lopes, A., & Thomas Dotta, L. (2015). Para um novo profissionalismo docente: novos mapas e figuras da formação. In A. Lopes, F. Pereira, M. Freitas, & A. Freitas (Eds.),Trabalho docente, subjetividade e formação(pp. 157-166). Porto: Mais Leituras.
[5] Lopes, A. (2011). Las historias de vida en la formación docente: Orígenes y niveles de laconstrucción de identidad de los profesores. [Life histories in teacher education: origins and levels ofteachers identity construction]. In F. Hernández, J. Sancho, & I. Rivas (Eds.), Historias de vida eneducación: Biografías en contexto (pp. 23-33). Barcelona: ESBRINA-RECERCA/U.Barcelona.
[6] Correia, L. G. (2019). Retrato de um professor liceal, intelectual e oposicionista no Estado Novo: o caso de Óscar Lopes. In J. Greenfield & F. Topa (Eds.),Textualidade e memória: permanência, rotura, controvérsia (pp. 213-275). Porto: CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória.
[7] Thomas Dotta, L. & Lopes, A. (2021). O ciclo de vida dos professores e a extensão daidade da reforma: perspetivas de estudo a partir de uma revisão de literatura. Revista Portuguesa de Educação. (in press).
[8] Hernández, F., Sancho, J. M. & Creus, A. (2011). Lo que hemos aprendido a la hora de llevar a cabo historias de vida a partir de cuatro proyectos de investigación. In F. Hernández, JM Sancho y JI Rivas (Coords.), Historias de vida en educación: biografías en contexto. Barcelona: Esbrina.
[9] Polkinghorne, D. E. (1995). Narrative configuration in qualitative analysis. International Journal of Qualitative Studies in Education, 8(1), 5-23. doi:https://doi.org/10.1080/0951839950080103
[10] Lopes, A., Marta, M., Matiz, L., & Thomas Dotta, L. (2016). Formação de professores eprimeiros anos de ensino: cruzando níveis de ensino e gerações de professores. [Teacher education and first yearsof teaching: crossing education levels and generations of teachers]. In A. Marin & L. M. Giovanni (Eds.),Práticas e saberes docentes: Os anos iniciais em foco (pp. 55-73). Araraquara: Junqueira& Marin.
[11] Lopes, A., & Pereira, F. (2012). Everyday life and everyday learning: the ways in whichpre-service teacher education curriculum can encourage personal dimensions of teacher identity. EuropeanJournal of Teacher Education, 35(1), 17-38. doi:10.1080/02619768.2011.633995
[12] Carvalho, M. J., & Folgado, C. (2017). Autoavaliação na Construção da EscolaDemocrática. [Self-Evaluation when building a democratic school]. Revista Lusófona de Educação, 35, 83-98. doi:https://doi.org/10.24140/issn.1645-7250.rle35
[13] Rabin, C., & Smith, G. (2012). Stories from Five Decades: How One Teacher's Theatricality, Courage, and Creativity Shaped a Life's Work. Action in Teacher Education, 34(4), 381-391. doi:10.1080/01626620.2012.712744
[14] Goodson, I. F., & Ümarik, M. (2019). Changing policy contexts and teachers´ work-lifenarratives: the case of Estonian vocational teachers. Teachers and Teaching, 25(5), 589-602. doi:10.1080/13540602.2019.1664300
[15] Middleton, S. (1996). Towards an oral history of educational ideas in New Zealand as aresource for teacher education. Teaching and Teacher Education, 12(5), 543-560.
[16] Santoro, N., Pietsch, M., & Borg, T. (2012). The passion of teaching: learning from anolder generation of teachers. Journal of Education for Teaching, 38(5), 585-595.doi:10.1080/02607476.2013.739796
[17] Geeraerts, K., Vanhoof, J., & Van den Bossche, P. (2016). Teachers' perceptions of intergenerational knowledge flows. Teaching and Teacher Education, 56, 150-161. doi:https://doi.org/10.1016/j.tate.2016.01.024

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