O ensino liceal é, até ao período deocrático, uma modalidade formativa de nível secundário, de frequência facultativa e, por essa razão, sujeita a pagamento de propina. Chegará à Revolução dos Cravos quase com a mesma configuração que lhe foi dada pela reforma de Jaime Moniz (1894-1895). A admissão ao ensino liceal foi reestruturada em 1935, tendo-se instituído provas escritas e orais de admissão aos liceus, realizadas nas escolas da rede oficial. Os alunos aprovados poderiam matricular-se nos liceus oficiais, os mais prestigiados e procurados apesar da política de numeri clausi, e nos estabelecimentos privados (normalmente uma segunda escolha). Temos, assim, uma conceção seletiva do ensino liceal, desde a entrada até à saída, com vista a premiar o mérito académico e canalizá-lo para o ensino superior que se encarregaria de consagrar, do ponto de vista social, económico e cultural, o mérito escolar dos poucos alunos que finalizavam os estudos liceais. A permeabilidade entre o ensino liceal e o ensino técnico era permitida desde que, considerando apenas o trânsito deste para aquele, os alunos do ensino técnico se sujeitassem a um exame no final de um ciclo de estudos com vista a determinar o nível de equivalência a conceder no ensino liceal (Decreto-Lei nº 36.507, de 17.09.1947). A juntar a estes critérios de selectividade, exame de admissão e propina de frequência, característicos do ensino liceal, há ainda a referir uma outra situação que acentuava a desigualdade de oportunidades no acesso aos liceus – a rede dos estabelecimentos de ensino oficial. O ensino liceal é tipicamente urbano, tendo os liceus de rede pública, regra geral, sido estabelecidos nas capitais de distrito ou nas sedes dos concelhos mais populosos. O alargamento da rede de estabelecimentos de ensino público foi um processo muito lento entre 1930 e meados da década de 1960. A partir desta década, a rede de estabelecimentos de ensino irá conhecer um desenvolvimento exponencial, chegando quase a quadruplicar num espaço de, aproximadamente, 10 anos.
A matriz do ensino liceal mantém-se quase intacta quando se comparar a sua organização curricular da década de 1950, por exemplo, como a dos atuais 3.º ciclo do ensino básico e cursos científico humanísticos do ensino secundário. A unificação do ensino secundário após a Revolução de Abril fez-se através de um processo de licealização dos planos de estudo.
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